Mensagem de despedida e agradecimento

26/12/2016 14:46

     Neste dia 25 de dezembro termina nosso mandato à frente do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC, iniciado em dezembro de 2012.

     Foi um período de atividade intensa, às vezes muito difícil, no qual procuramos dar os melhores encaminhamentos para os problemas que apareceram ao longo da jornada, mas também em lançar algumas bases e projetos para o futuro próximo.

     Fizemos todo o esforço e agimos com os recursos ao nosso alcance para a consolidação dos cursos novos de Graduação e Pós. A viabilização das condições fundamentais levantadas pelos avaliadores do INEP, com a disposição do Centro em auxiliar o esforço dos Cursos proporcionou um reconhecimento e boa avaliação para todos os cursos novos, apesar de nossas limitações.

     Procuramos e insistimos nas reformas e ampliações dos espaços físicos. Resolvemos o sério risco representado pelo abaulamento das lajes da testada acima da Sala Saramago, com a reforma daquela parte do Bloco C. Os telhados dos blocos A, B, C e D foram restaurados e receberam novas mantas de isolamento. Os pisos de várias salas do bloco B foram reformados. Apesar das limitações da Prefeitura Universitária e dos problemas com empresas contratadas, intensificamos a manutenção da rede elétrica, dos aparelhos de ar e ampliamos a rede de Internet a fio e por wifi. Ampliamos o bicicletário. Prestigiamos a coordenação da Comissão de espaço físico e a decisão do Conselho de Unidade sobre os critérios e meios de distribuição dos espaços que serão abertos nos blocos antigos com as mudanças de várias secretarias, núcleos e laboratórios aos blocos novos, que serão ocupados em breve pelo Centro.

     Criamos a Comissão do Bosque e procuramos melhorar o entorno do Centro, retirando o estacionamento ilegal existente, plantando mudas nativas, promovendo mutirões de limpeza e integrando esse espaço ao projeto de Parque UFSC.

     Diversificamos as atividades do Núcleo de Publicações – NUPPE, além da Revista de Ciências Humanas, cada vez mais conceituada e com recordes de acessos no Portal de Periódicos da UFSC, criando as coleções das Edições do Bosque, com 12 livros e um mapa já publicados.

     Mantivemos forte atividade institucional em todos os órgãos colegiados. Priorizamos o Conselho de Unidade como instância máxima em nosso âmbito, aprovamos o novo Regimento do CFH, e estimulamos a todas as representações a manutenção de um diálogo constante entre as Câmaras e o Conselho Universitário e os colegiados do Centro. Foi através do Conselho de Unidade que implementamos o encaminhamento de debates e consulta em assembleia geral sobre Empresas Juniores.

     No Conselho Universitário tivemos participação importante na discussão e definição das novas Resoluções sobre Concursos, Titulares de Carreira, Pesquisa, Viagens de Estudo, Extensão, Monitorias, Ações Afirmativas e Descentralização. Em todos estes momentos defendemos a prevalência de critérios acadêmicos, a inclusão, a democratização e a impessoalidade. Nossa posição sempre era fortalecida por ser sustentada em exame, análise e debate anteriores destas minutas, realizadas pelo nosso Conselho de Unidade.

     Desde o início da gestão procuramos uma aproximação e uma integração acadêmica com o MArquE, nosso Museu de Arqueologia e Etnografia Oswaldo Rodrigues Cabral. Depois de muito esforço do CFH e do próprio Museu, isso já é uma realidade consolidada. O Museu possui um plano museológico, um regimento e um órgão colegiado As exposições voltaram a acontecer, a pesquisa arqueológica se intensifica e os cursos de graduação do CFH já participam em várias atividades envolvendo docentes e estudantes.

     Também nos esforçamos, juntamente com a Comissão de implantação do Centro de Pesquisa e Documentação da UFSC, para a viabilização, junto à administração central, dos recursos necessários para a realização das obras de seu futuro prédio, além da definição de um regimento, a sensibilização da UFSC para a importância desse projeto e o mapeamento dos acervos documentais existentes na Universidade.

     Agradecemos pelo apoio firme e constante que recebemos de toda a comunidade do Centro no episódio de violação da autonomia universitária, em 25 de março de 2014. Aquele episódio nos revelou o início do estado de abuso das forças do Ministério Público e da Polícia Federal.

     Ao longo da gestão, procuramos uma relação direta com os técnico-administrativos, ouvindo suas necessidades e demandas e conciliando as necessidades do serviço com os perfis individuais e as preferências dos profissionais. Apesar de contar com um número cada vez menor de técnicos, sugerimos para o futuro próximo uma integração de secretarias, o que poderá otimizar as demandas do público e as necessidades de capacitação e melhoria do serviço.

     Em relação aos estudantes, procuramos uma relação direta e horizontal, buscando atender às suas demandas, promovendo e apoiando as Semanas de Integração, as Semanas dos CAs, e abrindo uma interlocução quando dos grandes movimentos estudantis, tal como ocorreu com a ocupação do CFH em novembro deste ano. O debate com o movimento estudantil foi importante para lembrar-nos que estamos numa Instituição que pulsa, composta por milhares de jovens que possuem suas linguagens e seus horizontes geracionais, que precisam ser compreendidos e considerados no âmbito da vida universitária

     Desejamos a todos(as) boas festas e um 2017 com saúde, realizações e alegrias.

                    Paulo Pinheiro Machado e Sônia Weidner Maluf

Carta de Alforria do Camponês

09/12/2016 10:23

“Tu és com os teus irmãos quase todo o Brasil. És tu quem mata a nossa fome. E morre de fome. És tu quem nos veste. E vive de tanga. Dás o soldado para defender a Pátria. E a Pátria te esquece. Dás o capanga para o latifúndio. E o capanga te esmaga. Dás a esmola para a igreja. E a igreja te pede resignação em nome de Cristo. Muitos são os caminhos que te levarão à liberdade. Liberdade quer dizer terra. Quer dizer pão. Quer dizer casa. Quer dizer remédio. Quer dizer escola. Quer dizer paz. Eu te apontarei esses caminhos. Mas eu te digo e repito: não adiante a viagem se tu fores sozinho. Convida seu irmão sem terra ou de pouca terra. E pede que ele convide outro. No começo serão dois. Depois, dez. Depois, cem. Depois, mil. E no fim serão todos. Marchando unidos. Como unidos vão à feira, à festa, à missa, ao culto, ao enterro, à eleição. Digo e repito: a união é a mãe da liberdade. São muitos os caminhos por onde poderás viajar com os teus irmãos. (…)Eu te explicarei tudo isso trocando em miudinho. Tenho a esperança de acender uma luz no teu espírito. De espantar o morcego que mora dentro dele chupando a tua coragem. Esse morcego é o medo. Acesa a luz que espanta o medo, essa luz, amanhã, crescerá como uma fogueira. E depois como um incêndio.”

Francisco Julião, 1961.

Uma jornada de aprendizagem

02/12/2016 00:09

              O Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC esteve, entre os dias 4 e 29 de novembro, sob ocupação estudantil. Estou no meio universitário como estudante e professor desde 1979 e nunca tinha visto um movimento como este. Já vi e participei de dezenas de greves, ocupações de RUs e Reitorias, mas nunca tinha visto algo parecido com o que aconteceu. Os estudantes estavam inspirados pelo movimento nacional de resistência às medidas de ataque que o governo federal implementou contra a educação e o país. O movimento começou muito forte, com uma assembleia de mais de 500 participantes que deliberou pela greve e ocupação com o bloqueio do prédio de aulas e de toda a parte administrativa que incluía salas de professores, secretarias, Laboratórios e Núcleos. O clima era um pouco catártico, com fortes demonstrações de voluntarismo, desprendimento e idealismo, com grande capacidade de auto sacrifício e de compartilhamento, por quase 1 mês, de uma alimentação precária, sono difícil, turnos de revezamento, banhos frios e muitas rodas de debate, aulões e assembleias. Desde o primeiro dia os estudantes organizaram-se em diversas comissões, que tratavam dos mais diferentes aspectos como segurança, alimentação, limpeza, atividades culturais, etc. Uma reunião diária era momento para definições e pequenas deliberações, entre uma assembleia e outra. As estruturas tradicionais do movimento estudantil como os Centros Acadêmicos e o DCE não tinham autoridade sobre o movimento, que apresentou forte participação de estudantes de primeiros semestres dos 10 cursos de graduação que acontecem no CFH.

              Nos primeiros dias muitos professores e técnicos, mesmo pessoas que apoiam o movimento dos estudantes, sentiram-se surpreendidos e, de certa forma, incomodados pela atitude radical dos estudantes. É fácil compreender esta reação automática de quem é barrado por tentar retomar sua rotina de trabalho. Os professores eram escoltados por estudantes até suas salas e só entravam nelas pontualmente, para pegar algum documento ou material. Muitos vieram procurar a Direção do Centro para pedir “medidas enérgicas” que garantissem o “direito de ir e vir”. Logo entenderam que não se tratava de buscar medidas de força, mas sim de procurar entender e apoiar o movimento dos estudantes que, em última instância, não era apenas “dos estudantes” já que eles estavam lutando pela educação como um todo. Eles lutaram por todos nós. Durante o ano o país ficou assistindo bestializado um golpe político que rasgou a Constituição e anulou 54 milhões de votos e as pessoas ainda se perguntavam se era ou não legítima uma resistência a tudo que tem acontecido. Entregaram o pré-sal, desmontaram a LDB e agora desvinculam receitas da Educação e Saúde (em breve, detruição da previdência e desmonte da CLT).

               Dentro do prédio ocupado os estudantes foram construindo uma relação horizontal com os trabalhadores terceirizados da limpeza, segurança e portaria. Funcionários da limpeza mostravam aos estudantes como limpar corredores, salas e banheiros e eles mesmos assumiram a maior parte destas tarefas. O prédio também teve alguns benefícios, como torneiras e lâmpadas trocadas, cuidado com o patrimônio e até a pintura final das paredes para tirar os grafites. Francamente é discutível a eficácia deste movimento para barrar a PEC 241, mas ainda é muito cedo para avaliar os efeitos a médio e longo prazos desta jornada. Trata-se de uma nova cultura política, ainda não muito bem definida, que defende um protagonismo direto, uma atitude niveladora e um movimento que não procura o domínio de estruturas, mas sim uma profunda reflexão sobre nossa vida e nosso trabalho. Por muitos anos ouvi em assembleias pessoas dizendo que era necessário se inventar formas alternativas de luta, que nossas greves tradicionais estavam desgastadas e haviam caído no vazio. Bem, há algo de novo aparecendo. Bora lá aprender.