Disciplina de Laboratório de Ensino sobre História Social do Campesinato – semestre 2023/2
Publicado em 13/07/2023 às 19:45
A partir de início de Agosto estarei lecionando a disciplina HST 7414 – Laboratório de Ensino sobre História Social do Campesinato, a ser lecionada nas manhãs das sextas-feiras, com o seguinte cronograma de leituras:
Dia 11/08: Aula inicial: Apresentação do Plano de Ensino e distribuição das leituras;
Módulo I: Especificidades e naturezas do campesinato. Racionalidades, adaptação e resistência.
Dia 18/08: Texto 1: CHAYANOV, Aleksandr. “Teoria dos sistemas econômicos não capitalistas” IN CARVALHO, Horácio Martins de (org.) Chayanov e o campesinato. São Paulo: Expressão Popular, 2004. pp 99 a 137.
Texto 2: SCOTT, James. “Formas cotidianas da resistência camponesa”. Raízes, v. 21, n. 1, pp. 10-31, 2002.
Módulo II: O campesinato, escravidão, plantation e lavoura de subsistência:
Dia 25/08 Texto 3: CARDOSO, Ciro Flamarion. A “brecha camponesa” no Brasil: realidades, interpretações e polêmicas. IN Escravo ou camponês? O proto-campesinato negro nas Américas. São Paulo: Brasiliense, 1987. pp 91-125.
Texto 4: LINHARES, Maria Yedda e TEIXEIRA da SILVA, Francisco Carlos. A questão da agricultura de subsistência IN História da Agricultura Brasileira. Combate e controvérsias. São Paulo: Brasiliense, 1981. pp. 117-133.
Até dia 15/09/23 – Envio dos Grupos das propostas de Oficina de Audiovisuais.
Dia 15/09 Texto 5 – SLENES, Robert. Malungu, Ngoma vem! África coberta e descoberta no Brasil. Revista USP. N. 12, 1992.
Texto 6: SCHWARTZ, Stuart. Trabalho e cultura. A vida dos engenhos e a vida dos escravos. IN Escravos, roceiros e rebeldes. Bauru: EdUSC, 2001. pp. 89-139.
Módulo III – Movimentos, guerras e recrutamento militar:
Dia 22/09 Texto 7 NEUMANN, Eduardo. “Um só não escapa de pegar em armas.” As populações indígenas na Guerra dos Farrapos. rev. hist. (São Paulo), n. 171, p. 83-109, jul.-dez., 2014
Texto 8. CARVALHO, Marcus.“Um exército de índios, quilombolas e senhores de engenho contra os ‘jacobinos’: a Cabanada, 1832-1835” IN DANTAS, Mônica Duarte (org.) Revoltas, Motins e Revoluções. Homens livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. São Paulo: Alameda. 2018. Pp. 169-200.
Módulo IV – Estado, ciência, agricultura e imigração:
Dia 29/09 – Texto 9 – SILVA, Márcio Both da. Medicina e melhoramento da agricultura no Brasil do século XIX. História, São Paulo, vol. 42. 2023.
Texto 10 – MACHADO, Paulo Pinheiro. Aprendendo na nova terra: imigrantes e nacionais no trabalho agrícola, séc. XIX. IN TOMPOROSKI, Alexandre A. ESPIG, Márcia (orgs.). Tempos de muito pasto e pouco rastro. São Paulo: Liberars. 2018. pp. 95-104.
Módulo V – Retirantes, migrantes e reprodução camponesa:
Dia 06/10 – Semana de História.
Dia 13/10 Texto 11 – NEVES, Frederico de Castro. Capítulo IV O Estado intervém. IN A Multidão e a História. Saques e outras ações de massas no Ceará. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000. pp. 135-160.
Texto 12 – WOORTMANN, Ellen F. Migração, família e conhecimentos tradicionais. Vivências, Natal – RN, n. 43, 2014, pp 13-27.
Módulo VI – Religiosidade, projetos comunitários e mestiçagem cultural:
Dia 20/10 – Texto 13. MACHADO, Paulo Pinheiro. “Raízes da insurgência sertaneja do Contestado” IN MENDONÇA, J. SOUZA, J. (orgs.) Paraná Insurgente: história e lutas sociais, séc. XVIII à séc. XXI. São Leopoldo: Casa Leiria, 2018. pp. 103-121.
Texto 14. SILVA, Lemuel Rodrigues. Canudos e Caldeirão. Missões abreviadas. Anais do XXIV Simpósio Nacional de História. São Paulo: ANPUH-Brasil. 2011. pp. 01-23.
Dia 27/10 – Texto 15. CORRÊA, Luís Rafael Araújo. Feitiço caboclo: um índio mandingueiro condenado pela Inquisição. Tese Doutorado História, UFF. Niterói. 2017, Capítulo 2.
Texto 16. RODRIGUES, Rogério Rosa. O Santo revortado. A imagem de São Sebastião, e sua apropriação em religiões afro-brasileiras , como ato icônico na santa irmandade do Contestado. Revista Desenvolvimento Regional em Debate. Canoinhas. Vol. 13, pp. 102-121, 2023.
Módulo VII – Luta camponesa no Brasil Contemporâneo:
Dia 10/11 – Texto 17. RANGEL, Maria do Socorro. Territórios do Confronto. Uma história da luta pela terra das Ligas Camponesas. IN LARA, Sílvia H. e MENDONÇA, Joseli M. (orgs.) Direitos e Justiças no Brasil. Campinas: Ed. UNICAMP, 2006.
Texto 18. JULIÃO, Francisco. O que são as Ligas Camponesas? IN WELCH, C.; MALAGODI, E.; CAVALCANTI, J. ; WANDERLEY, M. N. B. (orgs.) Camponeses brasileiros. Leituras e interpretações clássicas. Vol. 1. São Paulo/Brasília: Ed UNESP/NEAD-MDA, 2009.pp. 271-297.
Dia 17/11 – Texto 19. ESTEVES, Carlos Leandro. Posseiros e invasores: propriedade e luta pela terra em Goiás durante o Governo Mauro Borges da Teixeira (1961-1964). Revista Brasileira de História. São Paulo. Vol. 36, n. 71, 2016.
Texto 20 – PRIORI, Ângelo. A revolta camponesa de Porecatu. IN MOTTA, M. e ZARTH, P. (orgs,) Formas de resistência camponesa: visibilidade e diversidade de conflitos ao longo da história. Vol. II. NEAB. São Paulo/Brasília: Ed. UNESP/NEAB. 2009. pp. 117-142.
Dia 24/11 – Texto 21. DEZEMONE, Marcus. “A Era Vargas e o mundo rural brasileiro: memória, direitos e cultura política camponesa”. IN MOTTA, M. e ZARTH, P. (orgs,) Formas de resistência camponesa: visibilidade e diversidade de conflitos ao longo da história. Vol. II. NEAB. São Paulo/Brasília: Ed. UNESP/NEAB. 2009. pp 73-98.
Texto 22. TEDESCO, João Carlos e OLIVEIRA, Axsel B. Comunidades quilombolas no sul do Brasil: história, legislação e dinâmicas em processo. IN BONI, V. e ROCHA, H. (orgs.) Pesquisas em movimentos sociais na fronteira sul. Curitiba: Ed. CRV, 2019. pp. 181-210.
Módulo VIII- Apresentação dos Grupos de audiovisuais:
Dezembro de 2023.
Discurso aos formandos em História na cerimônia de 28 de março de 2023
Publicado em 29/03/2023 às 11:18
Tive a honra de ser convidado para ser Paraninfo da turma 2022/2 do Curso de História da UFSC:
Queridos(as) formandos(as)
O momento é de congratulação e de vitória, por vocês terem cumprido uma longa trajetória de estudos para a formação de historiadores. Como Bacharéis e Licenciados em História vocês possuem condições para pesquisar a História e transmitir os conhecimentos adquiridos. Mas a educação não é apenas transmissão de conhecimentos, é uma capacidade imponderável de interagir com o mundo e com as pessoas que nos proporciona alegrias e satisfações.
Esta turma passou pela pandemia de covid 19 e adaptou-se, durante alguns semestres, a formas de ensino remota que se não são as mais adequadas, mas eram as disponíveis naquele momento e agora vocês encontram-se prontos para enfrentar a missão de historiadoras e historiadores. É óbvio que qualquer um de vocês pode se indagar secretamente: será que estou mesmo pronto como profissional?
Saibam que profissionais com décadas de trabalho também se perguntam da mesma maneira. A rigor, nunca estamos prontos, pois sempre há algo a aprender no vasto campo de nossa atuação e na riqueza de nossa ciência e arte, que está sempre em renovação. Mas vocês já dispõem das ferramentas para caminhar por conta própria e construir seus caminhos profissionais. Para os que não forem trabalhar com a História, penso que esta formação sempre será importante para sua vida, independente do destino. De qualquer maneira, sempre tenham a UFSC como sua casa, retornem para cá, participem de nossos eventos, da atividade dos Laboratórios de pesquisa e da pós-graduação.
Nossa área de conhecimento tem a capacidade de constante aumento da inteligibilidade da ação humana no planeta. A cada geração antigas fontes revelam novas respostas, tendo em vista a constante mobilidade das perguntas. Conhecer bem o presente só é possível com a História, assim como só podemos conhecer a História questionando nosso presente. A mútua inteligibilidade entre passado e presente faz parte de nossa formação e nossa vida profissional.
Nos últimos anos nunca foi tão fácil argumentar pela relevância e a utilidade da História como área de conhecimento fundamental para a cidadania, a democracia e a luta por uma vida melhor. Infelizmente a História ganhou relevância pelos lamentáveis ataques e crimes desferidos contra a democracia. Passamos por um terrível período de perseguição à ciência, a memória e à Universidade. Não podemos considerar esta situação completamente superada, tendo em vista a força política alçada por admiradores do nazi-fascismo entre significativos contingentes da população. Nós, professores de História , nos perguntamos: Como chegamos a este ponto? Como pode alguém negar o Golpe Militar de 1964 e os 21 anos de Ditadura que se seguiram? O negacionismo histórico vai muito mais fundo: negaram os quase 400 anos de escravidão africana e o genocídio dos povos indígenas. O negacionismo não é apenas uma atitude de ignorância inocente. Ele é base para a manutenção de políticas de privilégio aos de sempre, o negacionismo é um patamar para a reprodução de injustiças e para que se renovem a opressão e a exclusão de milhões.
Aqui em nossa casa, a UFSC, também temos tarefas a cumprir, como deveres de memória. Nossa Instituição, como outras Universidades brasileiras, foi alvo da ação por parte de órgãos de informação e espionagem, durante a Ditadura Militar. Professores, técnicos e estudantes foram perseguidos. Em muitos momentos, os órgãos de repressão contaram com a covarde colaboração de autoridades internas para perseguir, prender e torturar. Determinados indivíduos, homenageados por nossa Instituição, delataram colegas e colaboraram abertamente para o arbítrio da Ditadura e para o silenciamento e perseguição de estudantes. A UFSC formou uma Comissão da Memória e Verdade que pesquisou e levantou estes abusos e ilegalidades. O Relatório Final da Comissão faz algumas recomendações que ainda hoje estão a espera de uma decisão do Conselho Universitário para serem implementadas. Que façamos isso por aqui. Não há como esquecermos destes crimes, fingir que não aconteceram só fertiliza o terreno para que novas iniciativas antidemocráticas tenham curso. Se o Brasil tem um encontro marcado com o seu passado, a UFSC também. Precisamos acertar as contas com o passado para poder caminhar para a construção do futuro.
Quanto a nós, Historiadores, agora me dirijo a vocês como colegas, tenham em mente a nossa responsabilidade como profissionais de História, nunca deixem que as forças criminosas do passado voltem a governar nosso país e as mentes da nossa juventude.
Desejo uma jornada profissional com alegrias e realizações!
Boa noite!
Discurso de Adeodato
Publicado em 17/03/2023 às 11:52
O que há de errado no mundo?
A fala final de Adeodato, o último chefe rebelde na Guerra do Contestado, dizendo aos caboclos para dispersarem, pelo texto de Romário Borelli, é quase profética para o tempo que vivemos.
Em período de derrota e dispersão, as pessoas não devem “se render por dentro” nem esquecer suas experiências (aquilo que “se traz atrás dos olhos”).
“Tamo cercado…Aqui se costuma dizê que um home não morre quando tem companhero. Mais agora os companhero se arretiraro quage tudo, uns pra cova, os otro se escondero ô se entregaro… é o fim. Meceis se espraiem se ainda dé. Que ninguém se arrependa do grito que deu, que foi bem dado. Eu, nascido e criado aqui nos mato, não sei dizê o que tá errado no mundo, que pouco vi… mais arguma coisa tá muito errada. Se meceis que vão segui por aí, um dia pudé descobri e pudé conserta, se arreúna e conserte, que vale a pena. Vale a vida inté. Porque nóis não semo bandido, nem matemo por gosto, porque pelo memo impurso e pela mema ânsia nóis enfrentemo o risco de morte, sofremo e morremo. Se um home se alevanta e diz: ‘Vô morrê se fô perciso’, pode não sê bonito, nem muito religioso, mas só acontece porque arguma coisa tá muito errada antes disso. Peço que vanceis me perdoe os grito e os comando de guerra, peço que vanceis se espaiem…. pode se espaiá por aí, pode inté se intregá… mas não se renda por dentro, não se conforme. O Zé Maria já dizia: ‘Eu trago atrais dos zóio coisa que não posso revelá!’ Vanceis pode sê como o profeta, inté que dê pra revelá”. Romario Borelli O Contestado. Curitiba: Orion, 2006. p. 139, 140.